Metas inalcançáveis e maior frequência do uso do celular para resolver pendências bancárias são as maiores culpadas das demissões.
Para os trabalhadores do Itaú, o fantasma do desemprego é uma realidade. Isso porque desde o início do ano, 134 agências do banco já foram fechadas em todo o país e mais de oito mil funcionários foram demitidos. As informações foram passada pelo próprio banco durante reunião com a Comissão de Organização dos Empregados (COE) do Itaú, no dia 7 de maio. Em Blumenau, desde março deste ano, sete funcionários já foram demitidos.
Apesar dos números assustadores, o banco afirma que a rotatividade em 2018 foi de 10%. Foram 9.870 funcionários admitidos contra 8.618 demitidos, um saldo de 1.252 funcionários. Destes, o maior número de desligamentos, cerca de 26%, se concentram na faixa etária entre os 25 a 34 anos. Já 18,8% dos desligamentos ocorreram entre os 40 a 49 anos. Os números ainda apontam que as demissões ocorrem: 31% em área administrativa; 27,2% na área comercial; e 41,8% no operacional.
Para a diretora de formação do Sindicato dos Bancários de Blumenau, Maria Terezinha Rondon, a admissão de novos funcionários mascara a realidade do banco. “O que a gente tem assistido nos bancos é uma prática de demitir funcionários com salários mais elevados e contratar novos. Então, quando o banco apresenta os números não se vê o impacto das demissões, porque, por exemplo, eles demitem nove mil empregados, mas contratam outros nove mil. Só que os que foram demitidos têm salários muito elevados e os contratados têm salários muito inferiores. Isso mascara a realidade”.
O que leva às demissões?
As novas tecnologias passaram a fazer parte da vida da sociedade e é até difícil imaginar um tempo em que as pessoas não conseguiam resolver tudo pelo celular. O problema é que o investimento pesado dos bancos, quase R$ 20 bilhões em 2018, um crescimento de 3% em relação a 2017, tem gerado, também, ainda mais desemprego.
Os bancos investem em tecnologias com a desculpa de melhorar o atendimento aos clientes, mas a verdade é que estes investimentos acabam gerando uma grande redução de custos aos banqueiros. Afinal, não é mais necessário ir até uma agência física para fazer qualquer tipo de procedimento.
Conforme a pesquisa “Tecnologia Bancária 2019”, feita pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), seis em cada dez transações bancárias são feitas pelo celular ou computador. Em 2018 foram 31,3 bilhões de transações bancárias feitas pelo modo ‘mobile banking’ e 16,2 bilhões feitos pela ‘internet banking’. Apenas para efeito de comparação, em 2014 esses números eram 4,7 bilhões e 18 bilhões respectivamente.
Os dados ainda mostram que em 2018, quase 22 bilhões de pesquisas de saldo foram feitas pelo celular, além de 1,6 bilhões de pagamentos de contas. Até abertura de contas já estão sendo feitas diretamente pelo celular. Em 2017 foram 1,6 milhão, já em 2018 esse número subiu para 2,5 milhões, um aumento de 56%.
Mas além desse, a diretora do Seeb Blumenau afirma que o outro motivo para as demissões são as cobranças de uma produtividade quase inalcançável. “A implementação das novas tecnologias vão construindo essa mudança em que o desemprego aparece como uma das consequências. Isso vai impactando tanto nas oportunidades de emprego quanto nas mudanças de comportamento da sociedade, modelo de gestão e adoecimento da própria categoria... porque os trabalhadores são cada vez mais exigidos. Na questão da produtividade há uma competição e hoje não é mais em relação aos colegas, é uma competição consigo mesmo. Você tem que se superar a cada dia para assegurar a permanência no trabalho e esse ritmo tem consequências bastante desastrosas para a saúde física e psicológica dos trabalhadores”.
Redução das agências
Os representantes da Comissão de Organização dos Empregados (COE) do Itaú cobram da empresa a criação de um centro de realocação e qualificação, assim, antes de demitir os funcionários, a instituição deve buscar requalificar o profissional e realoca-lo em outras áreas onde tenham vagas.
Terezinha, que já foi membro do COE Itaú, destaca que em toda reunião a pauta da empregabilidade e demissão é colocada na mesa. “Mas o banco insiste em não reconhecer isso, porque ele apresenta os números e ali fica mascarada essa realidade”. Para ela, o cenário é ainda pior porque os próprios bancários não conseguem perceber a situação. “Eu acho que o pior de tudo é que o trabalhador não faz essa leitura. Ele não consegue enxergar e é muito difícil de organizar e fazer com que a gente tenha os elementos necessários para questionar essa administração do trabalho junto ao banco”.
Para ela, a solução está na união dos trabalhadores. “Essa é uma tarefa, muitas vezes, do próprio trabalhador. Porque sem esse tipo de organização, sem essa percepção fica uma fragilidade muito grande. Um funcionário é demitido, mas tem quantos outros querendo trabalhar?! A única forma de enfrentar esse problema é a unidade do trabalhador, para que a gente possa ter respaldo na hora de fazer os questionamentos”.
Fonte: Imprensa Seeb Blumenau